Antes de largar o osso, antes de nos deixar em paz, Cesar Maia, no ocaso de sua existência, deu uma entrevista que saiu no dia 28 de dezembro no JB Online.
É uma dessas peças jornalísticas curiosas, típicas de final de mandato. Aqui, Cesar Maia tem uma rápida oportunidade de discorrer sobre suas autoatribuídas realizações, sem deixar de lado suas pitorescas intervenções de elevado grau de excentricidade.
É bom dar uma olhada. Lá está todo, inteiro, o ser abominável que trabalha segundo uma lógica pessoal, incompatível com a real, e que se acha um gênio, um sábio.
Ao longo de toda a falação é possível notar que Cesar Maia presume que tudo o que ele fez, tudo o que disse, todas as suas ações, tudo, sem exceção, foi extremamente bem planejado e deu os resultados esperados pela sua incrível capacidade intelectual. Seus famosos factóides, suas aparições fazendo papel de paspalho, suas fotos montadas, são resultado de um cálculo bem arquitetado para provocar um efeito midiático esperado e alcançado. É de assustar imaginar as repórteres (parece que são duas) escutando o louco cuspindo todas as besteiras com aquele ar seguro, aquela voz de autocontrole irritante.
Falta noção a Cesar Maia. O que não é nenhuma novidade. Achando que abafa, entrega que nunca passou de um ser vaidoso que sempre colocou o brilho pessoal na frente dos interesses da cidade. Se algo na sua administração pode ser considerado bom para o Rio é pura coincidência.
Há partes em que isso fica claro. Quando fala do patético Pan, “realização” de empenho quase que pessoal, coloca-o como o problema responsável por desviar verbas de áreas importantes. Ou seja, mesmo sabendo disso, Cesar seguiu em frente com a palhaçada e comprometeu a cidade. Ele também assume a má conservação da cidade como se isso não fosse nada, como se não tivesse importância. Sua responsabilidade pelo caos não lhe causa o mínimo constrangimento.
Ao longo dos últimos 16 anos, com Conde inclusive, Cesar Maia montou uma máquina administrativa complexa no entendimento dele. Foram 16 anos trilhando um caminho que ele julgava seguir em direção à grande verdade. O resultado é um legado de gesso que depois de tanto tempo pode ser traduzido em problemas de todos os tipos: No trânsito, na educação, no transporte público, na ordem urbana, na saúde. Vai ser meio difícil colocar as coisas para funcionar.
A cidade nunca esteve tão esculhambada. Falando da desordem urbana que Eduardo Paes promete combater, fica evidente a estreita visão que Cesar Maia tem de urbanidade. Ele é o prefeito que mais devastação causou na Zona Oeste, que liberou a construção de prédios em locais sem a mínima infraestrutura urbana. Mas para Cesar desordem urbana é apenas questão de camelô, de comércio ilegal. Idiotice!
A justificativa de Cesar para a falta de processos de sua administração é a criação de um sistema de controle interno eficiente. Esqueçamos o rabo preso dos vereadores. Cesar criou uma engrenagem municipal que deveria ser seguida por toda a humanidade. Trata-se de um Gênio, um Deus, um Iluminado que deixou dinheiro em caixa suficiente para gerir toda a cidade.
Se isso é verdade, o que podemos entender da foto abaixo?
Tirei essa foto em setembro de 2008. É um trecho da Estrada de Jacarepaguá, um pouco depois da Favela do Rio das Pedras. Acreditem, esse pedaço da estrada não é exceção. Enormes trechos dela estão nessas condições. Em alguns locais a situação é ainda pior. É uma importante via de ligação de Jacarepaguá com a Zona Sul e é meu caminho diário para o trabalho. Uma vergonha. E esse estado de não conservação não é recente. Desde que eu me entendo por gente, sempre foi uma estrada esburacada, perigosa, mal iluminada, alagada.
Com dinheiro em caixa, como Cesar Maia explicaria então a existência de uma estrada como a Estrada de Jacarepaguá nessas condições?
Ou ele mente descaradamente ou entrega que é um incompetente, um elitista, um verme que cagou para a cidade que administrou diretamente por 12 anos.
Graças a Deus Cesar Maia acabou. Talvez vá dar aula em uma universidade na Espanha. Segundo ele, foi convidado. Pela primeira vez ele me fez rir.